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Lugar de mulher é onde ela quiser, sim, senhor!


Li com tristeza e repúdio uma mensagem que recebi via internet mostrando o conteúdo de um panfleto distribuído nas ruas da cidade com o famigerado título: Lugar de mulher é na cozinha.

Tal mensagem denuncia a pequinês intelectual de pessoas ou indivíduos, que se declaram cidadãos honrados, mas na verdade revelam-se verdadeiros brucutus, machões enrustidos, que em detrimento da ética, lançam mão de um recurso tão desprezível - o preconceito - na sua forma mais
cruel e patética com o intuito de prejudicar candidaturas de mulheres corajosas, que tentam de forma legitima e democrática, contribuir com a nação. Não estou defendendo candidatura de A ou de B, estou apenas manifestando o direito que me é outorgado como profissional e mulher, a liberdade de expressão.

A mensagem do panfleto mencionado poderia ser simplesmente ignorada por pura ausência de fundamento. Porém, eu já havia respondido antecipadamente em um texto publicado em O PROGRESSO na edição do dia 16 de março de 2014, como parte das homenagens ao Dia Internacional da Mulher. Para quem não leu, aí vai a reedição na íntegra.

Lugar de mulher é onde ela quiser

*Dijé Guedes

Na cozinha, no quarto, na rua ou no Palácio do Planalto, lá estão elas. Mães, profissionais, amantes, estadistas, ou simplesmente mulheres. Os avanços conquistados pela mulher nas ultimas décadas são incontestáveis. Indiscutível também é o valor que elas representam seja no âmbito familiar ou na sociedade como todo.

Relatos bíblicos comparam o valor da mulher virtuosa ao de finas joias. E afirmam que a mulher sábia edifica a própria casa. Virtuosa ou não, sábia ou tola, a mulher é um ser sublime, sensível, sentimental, mas sobre tudo forte. Quando atingida, a boca muitas vezes se cala; os olhos denunciam através da lágrima que teima ao cair; no rosto o semblante testemunha na alma, a ferida que sangra.

Talvez por isso, também é chamada de sexo frágil, um pensamento equivocado, convenhamos. Como considerar frágil alguém que com a mesma presteza que serve o café da manhã em casa, despacha no gabinete, escritório, consultório, sala de aula, amamenta o filho, ensina a lição de casa, ora, malha, vai ao salão de beleza, comenta a novela, fala ao celular, atualiza os contatos nas redes sociais?

E no trajeto para o trabalho ler o jornal, retoca a maquiagem, faz o chek list na agenda, ver as vitrines, à noite, após a dupla ou tripla jornada, ainda encontra ânimo pra escolher a lingerie predileta e no dia seguinte está disposta e pronta pra começar tudo de novo. Como considerar frágil alguém apontada como “a força que move o país (Pres. Dilma em rede nacional)”?

No início do século, a mulher que não tinha o direito de escolher nem mesmo o próprio marido, hoje é destaque nas estatísticas econômicas e nos números dos programas sociais do Governo Federal. A mulher também é responsável pelo sustento de 40% dos lares. No empreendedorismo são as principais representantes das vinte maiores economias mundiais. 44% das franquias brasileiras estão nas mãos de mulheres. Isso prova que as mulheres brasileiras representam maioria nos quesitos quantitativo e qualitativo.

Do machado e porrete à sombra de uma palmeira de babaçu ao gabinete da Presidência da República, passando pela colher de pedreiro, o volante de caminhão, as telinhas e telões e os campos de futebol. E tudo isso sem descer – literalmente - do salto e, é óbvio, sem perder a feminilidade e a sensibilidade. Ao ponto de inspirar versos na música e na poesia. Esse, só pode ser chamado de sexo forte.

Nós mulheres, somos o sexo forte sim, senhor. E como tal, temos o direito de exigir no mínimo o que já nos pertence enquanto cidadãs:

o respeito ao direito à liberdade de escolha do que queremos, como, onde e quando. Respeito é bom, não só pelo mérito de algo considerado relevante, mas, pelo simples fato de sermos mulher.
Se estamos ao lado, na frente, ou atrás de um grande homem, não importa. Desde que estejamos onde queremos estar. Portanto, lugar de mulher é onde ela quiser estar.

Parabéns a todas as mulheres e homens que acreditam na igualdade de direitos.

(Dijé Guedes – jornalista)